Seleta de Nilo Pereira – Histórias e personagens

O livro, com o título em epígrafe, editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), no ensejo do bicentenário da Independência Nacional, no universo de um total de dez títulos, dá bem a dimensão do quanto o nosso Estado teve papel preponderante no processo da autonomia brasileira do jugo português.
Seleta de Nilo Pereira

O livro, com o título em epígrafe, editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), no ensejo do bicentenário da Independência Nacional, no universo de um total de dez títulos, dá bem a dimensão do quanto o nosso Estado teve papel preponderante no processo da autonomia brasileira do jugo português.

Por dever de justiça e de reconhecimento, louve-se o ex-presidente da Cepe, Ricardo Leitão, e o atual, João Baltar, que se dividiram nas editorações dos primeiros cinco títulos, no ano passado e, na gestão atual, os cinco complementares. A sessão, no Museu do Estado de Pernambuco, na terça-feira passada, dia 4, contou com numerosa e prestigiada plateia, além da presença ilustre da vice-governadora Priscila Krause, que enalteceu o projeto editorial, acenando para a sua continuidade, quando das datas maiores da nossa pernambucanidade. Foi uma festa da inteligência pernambucana.

Esse projeto da Cepe teve a coordenação científica do historiador George Cabral, que foi também quem selecionou os capítulos dessa Seleta de Nilo Pereira, pinçando-os dos seus livros esgotados, observando o diálogo mantido entre fatos e personagens, ênfase para Joaquim Nabuco e outros grandes do nosso passado histórico.

O autor da seleta, meu saudoso pai, historiador Nilo Pereira, cuja vida foi de extremada dedicação aos estudos do nosso passado histórico, em especial à História de Pernambuco, segundo ele antecipadora das ideias e dos ideais político-libertários.

A leitura do seu livro é uma fascinante viagem pelos destinos dos tempos de antigamente, tendo por foco sempre os fatos e os feitos da nossa gente varonil. Andar esses destinos é refazer caminhos, os caminhos da nossa pernambucanidade.

Somos, hoje, exorta Nilo Pereira, na Federação brasileira, um exemplo de dedicação ao que os nossos bens culturais apresentam de mais nobre e de mais belo. Preservar esses bens, incentivar a cultura, estimular a iniciativa pública e privada, zelar pela herança que recebemos – eis o que de melhor contém a publicação, reveladora de lutas e de ansiedades.

Nilo, por sua vasta obra, está entre os que mais têm defendido, no presente e no passado, a grande página nacional, que é a História de Pernambuco. Página nacional – diga-se bem alto e bem claro, pelo que significa a expulsão dos holandeses de Pernambuco: a poderosa lição da unidade brasileira, que tem nos Guararapes o seu cenário maior.

Este feito, tão pernambucanamente brasileiro, está na essência do livro, haja vista a exortação do autor aos longes do nosso passado histórico e a sua exaltação aos princípios da liberdade, sendo, estes, corpo e alma da índole de toda gente pernambucana.

Desde então, começa-se a pensar nos Guararapes em termos de Nacionalidade. O Parque Nacional dos Guararapes, como o nome está dizendo, é a prova de que a revolução já nacional que foi a Insurreição Pernambucana, como assinalou Oliveira Lima, era o que Gilberto Freyre chamou o endereço certo do Brasil.

Como se Pernambuco, que entre uma e outra revolução escreveu a bela página, que foi a Convenção de Beberibe de 1821, tornando Pernambuco autônomo antes que o Brasil fosse Nação soberana, tivesse desmentido o seu passado numa hora de desvario. As sombras desse suposto separatismo foram se apagando, à medida que a pesquisa histórica esclarece cada vez mais o papel de Pernambuco na formação brasileira: – um papel talvez incomparável pela grandeza do seu sacrifício, pelo heroísmo da sua gente, pela bravura cívica daqueles “heróis antigos,” que Joaquim Cardozo celebrou num poema.

A Convenção de Beberibe foi fruto da antecipação de Goiana, porque foi naquela cidade da Zona da Mata que se instalou a primeira Junta Constitucional do Brasil, conhecida por Junta Governativa de Goiana, em 29 de agosto de 1821, que teve, à frente, o luso-brasileiro Felipe Mena Calado da Fonseca. Goiana marchou sobre o Recife e instituiu – repita-se – a primeira Junta Constitucional do Brasil.

Foi em Goiana, segundo Nilo Pereira, que se instalou a primeira imprensa depois do Recife. Diz Franklin Távora, no seu romance O Matuto, que a alma pernambucana tem a sua sede em Goiana. Goiana está presente, com relevante atuação, nas revoluções de 1817, 1821, 1824 e 1848.

Goiana, com grande protagonismo, enfrentou Luís do Rego e promoveu a deposição do governador tirano.

Nilo Pereira, ao se dedicar à História de Pernambuco, por suas palavras abalizadas, reacende a inapagável lâmpada votiva que alumia a solidão da História, nas noites de vigília e de luta por um Pernambuco cada vez mais Pernambuco, por uma Pátria cada vez mais brasileira na sua maneira de ser fiel a si mesma, honrando o que este passado-presente tem sabido honrar: a unidade de um povo, que deixou nos Guararapes a lição maior da Nacionalidade.